Centenário de Guido Wilmar Sassi tem mesa-redonda na Universidade Federal de Santa Catarina em Florianópolis
O ano de 2022 assinala os 100 anos de nascimento de Guido Wilmar Sassi (Lages-SC, 15 de setembro de 1922 – 5 de maio de 2002) e os 60 anos do romance “São Miguel”, um dos livros mais importantes da história da literatura catarinense.
Para homenagear este nome fundamental da literatura brasileira e catarinense, a Secretaria de Cultura e Arte (SeCArte) e o Departamento Artístico Cultural (DAC) da Universidade Federal de Santa Catarina, em parceria com a Humana Sebo e Livraria, de Chapecó, realizam uma mesa-redonda sobre a vida e a obra do escritor.
A programação é gratuita e acontecerá no dia 17 de novembro, quinta-feira, às 19h, no Auditório Henrique Fontes, no Centro de Comunicação e Expressão (CCE-UFSC), com a participação das professoras Drª Ana Brancher e Drª Tania Regina Oliveira Ramos, além dos historiadores Ms. Fabiano Garcia e Ms. Fernando Boppré.
Sobre o autor:
Guido Wilmar Sassi, filho de Francisco Sassi e de Ana Maria Hamitzsch nasceu em setembro de 1922, na cidade de Lages, serra catarinense. Na primeira infância, conviveu com a avó materna, Gertrudes Gesing – viúva do escultor e canteiro alemão Clemente Hamitzsch –, espécie de tutora que lhe permitiu importante acesso ao mundo das letras, jornais, folhetins e, fundamentalmente, um dicionário.
No ensino formal, em Lages e em Campos Novos, Guido frequentou diferentes escolas, chegando a circular entre alunos e professores do Colégio Diocesano em fins dos anos 1930, instituição de referência para elite da região serrana, dirigida pela Ordem dos Frades Menores dos padres franciscanos. Nessa época é presenteado pela mãe com a primeira máquina de escrever. Acompanhando idas e vindas da família, no período, também travou os primeiros contatos com o cinema, especialmente filmes de faroeste que lhe marcariam por toda a vida.
Dizia-se “criança de Lobato” e assíduo leitor das coleções infantis como Terramarear e Para Todos. Com o apoio do frei Sebastião da Silva Neiva, começou a publicar os primeiros textos na imprensa de Lages, com pseudônimo de Nélio Cardoso, cogitando estudar na capital, no Colégio Catarinense, aonde chega a prestar exame para admissão, alcançado segundo lugar. No entanto, com a morte do pai, em 1942, Guido interrompe os estudos e passa a auxiliar a mãe com a “Padaria Lageana”. Desde então foi balconista, depois funcionário do Departamento Nacional de Estradas e Rodagens (1943) e, já na década de 1950, funcionário do Banco do Brasil em Rio do Sul/SC e em Lages.
Durante esse percurso, em uma cidade sede de parte substancial da oligarquia catarinense, e mesmo dispondo de poucos recursos para ascensão social, Guido vai ser um leitor importante não só de livros, mas do processo de transformação urbana capitaneado pela expansão intensiva da exploração da madeira araucária na região. Na Diretoria de Estradas de Rodagem, como funcionário, estabeleceu importante amizade com Hélio Bosco de Castro, amigo com quem conquistara o tempo necessário para escrever, “verdadeiras enxurradas de poemas, sonetos, acrósticos, versos, contos, crônicas não realizadas, histórias nunca terminadas”. Já ali considerava o horizonte profissional como escritor, como uma forma de “sair do anonimato” de forma humana, para projetar-se “acima da média” e ser alguém na vida.
Naquela cidade, ainda, aproxima-se de um grupo importante de jovens que mais tarde fundarão o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) local, a exemplo de Nereu Goss e os irmãos Edézio e Evilásio Caon que, ao lado de Paulo Rossi, serão companheiros de mobilização cultural na imprensa, à frente da revista cultural de novos Rumos (três números) e do “Centro Cultural de Lajes”, coletivo responsável por exposições, debates e exibições de filmes.
Mas foi em 1949 que conquistou seu primeiro e improvável “êxito literário”, ao publicar o conto Amigo Velho nas páginas da Revista do Globo, em Porto Alegre, em seção especialmente dedicada ao conto brasileiro, figurando ao lado da produção literária de Mário de Andrade, Graciliano Ramos, Monteiro Lobato, Afonso Schmidt, Ribeiro Couto e Dinah Silveira de Queiroz. Foi essa publicação que chamou atenção de um jovem casal na capital catarinense, Salim Miguel e Eglê Malheiros, que então o convidam a integrar o grupo Sul, responsáveis pela edição e publicação de seus primeiros livros, Piá (1953) e Amigo Velho (1957).
Na forma breve do conto, foi uma das expressões literárias do Grupo Sul. Escritores como Paulo Rónai, Hélio Pólvora, Valdemar Cavalcanti e Wilson Martins, referiram-se ao escritor catarinense como uma grande promessa da literatura brasileira entre os anos 1950 e 1960, além de um nome de peso na tradição do conto brasileiro.
Com o lançamento de seu livro de estreia, Piá, em 1953, pelas Edições Sul, foi finalista do Prêmio Fábio Prado de literatura, em São Paulo. Seu segundo livro, Amigo Velho, de 1957, angariou o prêmio do Instituto Nacional de Livros como um dos melhores livros de contos publicados no ano. Em colaboração, publicou no Rio de Janeiro, cinco contos em 20 histórias curtas, ao lado de Alberto Dines, Esdras do Nascimento e Isaac Piltcher. Alguns anos depois publicou São Miguel, em 1962, romance editado pela editora paulista Boa Leitura. Graças ao convite de Gumercindo Rocha Dórea, passou a um gênero ainda pouco difundido no Brasil, a ficção científica, publicando pela editora GRD o livro Testemunha do Tempo (1963).
Em 1964, com Geração do Deserto, considerada sua grande obra, publicada no Rio de Janeiro pela editora Civilização Brasileira, obteve reconhecimento em nível nacional, especialmente a partir da adaptação da obra como roteiro para o filme de Silvio Back, A guerra dos Pelados (1971). Antes de adentrar no seu longo período de “autoexílio literário”, participou em 1965 da coletânea A cidade e as ruas – novelas cariocas, com Adonias Filho, Carmen da Silva, Esdras do Nascimento, Marques Rebelo, Sergio Porto, dentre outros. Voltaria à estrear na cena literária apenas nos anos 1980, graças ao novo empenho de Salim e Eglê: pela editora da UFSC, lançando O calendário da eternidade (1983) e Os sete mistérios da casa queimada (1989), além de A bomba atômica de Deus (1983) pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC).
Obras do autor:
Contos
– Piá. Florianópolis: Edições Sul, 1953;
– Amigo Velho. Florianópolis: Edições Sul, 1957;
– 20 Histórias Curtas (em colaboração), Rio de Janeiro: Antunes, 1960;
– Testemunha do tempo. Rio de Janeiro: G.R.D. 1963;
A bomba atômica de Deus. Florianópolis: FCC,1986.
Romances
– São Miguel. São Paulo: Editora Boa Leitura, 1962.
– Geração do Deserto. Rio de Janeiro, Ed. Civilização Brasileira, 1964;
– O calendário da eternidade. Florianópolis. Ed. da UFSC, 1983;
– Os sete mistérios da casa queimada. Florianópolis. Ed. da UFSC, 1989.
Serviço:
O quê: Mesa-redonda em homenagem ao Centenário de Guido Wilmar Sassi;
Com: Dra. Ana Brancher, Dra. Tânia Regina Oliveira Ramos, Ms. Fabiano Garcia e Ms. Fernando Boppré;
Realização: Secretaria de Cultura e Arte (SeCArte) da Universidade Federal de Santa Catarina e Humana Sebo e Livraria;
Onde: Auditório Henrique Fontes (CCE-UFSC);
Quando: 17 de novembro de 2022, quinta-feira, às 19h;
Quanto: Gratuito.